O tempo é cruel

Da série “o tempo é cruel”.
Ontem foi a primeira aula dos calouros na minha disciplina.
Os rostos revelavam um ar pueril na meninada. Uns, com cara de assustado. Outros, curiosos, olhavam envolta seus futuros “parças”.
Diferente mesmo. Canetas e estojos novos. Caderno do Ben 10. Lápis e borracha de qualidade, não aquela que esfarela ao apagar.
Pena que no período seguinte tudo se resumirá a tirar uma foto do quadro…
Voltando…
Refrescante ver rostos de 18, 19 anos.
Primeira aula é aquilo: ementa, avaliação e plano de ensino. Rola sempre uma introdução, uma contextualização da disciplina.
Ontem, eu tinha que falar sobre a história da internet. Contexto pós segunda guerra, marcos relevantes e a era da ubiqüidade.
Imagine: 21 horas numa sexta feira. A primeira vista, eu sei que meu rosto não inspira simpatia. Pareço sisudo. Então, mesmo com o laboratório aberto, eles continuavam lá fora. Um se arriscou e pediu pra entrar. Os outros seguiram o herói.
Sim, sexta feira 21 horas. Eu me viro pra manter a aula atrativa. Brinco. Promovo “discussão”. Faço alegorias. Quase planto bananeira.
Daí, você percebe que algumas colocações não fazem sentido para eles. Sugerir, por exemplo, que a internet poderia modificar o sistema político, não comove. Alguns nem tinham votado ainda.
Durante um tempo da minha carreira de professor, eu olhava os outros colegas professores com um certo ar distante. Talvez por estar junto à alma mater, preferia me sentir um “aluno avançado”. Na minha cabeça, meus colegas professores sempre estavam de suéter com aquele olhar por cima do óculos.
Com as minhas piadas ficando descontextualizadas, me senti aquele professor velha guarda de computação. Sabe aqueles que se orgulham de ter programado com cartão perfurado? Quase o tio do “pavê ou pacomê”…
Ah! Os alunos? Sim, o feedback foi positivo. Eles participaram. Ainda arranco risadas, olhares atentos e interesse na disciplina. Mas, a sensação que fica é a de que preciso comprar um suéter.

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