Eu tinha lá meus 8 anos e a minha irmã, 12.
Eu, nerd, com tornozelos, cotovelos e um psoas de irritar, tinha dificuldades de aproveitar a infância. Como qualquer sujeito com desvios padrões altos considerando a normal, tinha dificuldades de me encaixar. Eram comuns aqueles deboches e preconceitos.
Mas essa história não é sobre mim, mas estou intrinsecamente relacionado.
A minha irmã, a mais bonita da rua, a mais inteligente. Sempre foi ótima aluna, filha dedicada e irmã leal.
Tinha muitos colegas, mas rapidamente desfazia qualquer relação caso eu fosse o alvo. Ao se deparar com qualquer injustiça comigo, ela comprava briga, virava bicho!
Mas, nem ela, estava livre das maldades juvenis. Um grupo de meninas (obviamente eu não vou citar os nomes) implicava reiteradamente com ela. Todos os dias, esse grupo de meninas a cercava e a ameaçava de lhe aplicar uma surra.
Eu me lembro desse dia. Como me lembro…
IAPC de Irajá. Berço das crônicas suburbanas, quase um curtiço high level. Somos orgulhosos da origem.
Era mais ou menos 10 horas da manhã (eu tenho memória eidética). Era ali, na frente do muro da Dona Geralda, perto do Cantinho da Amendoeira.
Estava um sol de rachar. Numa rara oportunidade, era sábado e eu pude descer.
Eles estavam prestes a iniciar alguma brincadeira. Lembro que minha irmã gostava de me incluir nas brincadeiras me colocando como café-com-leite.
Podia ser um dia (a)normal, mas não foi.
Aquele grupo juvenil a cercou. Atônito, vi aquela cena. Me sentia impotente.
Era a minha vez. Claudicante, corri pra casa, passei de forma soturna pelo meu pai. Não falei nada.
Abri o guarda roupa, peguei um cinto do meu pai – sabe esses cintos de couro legítimo com uma fivela grande?
Então… O tempo de “turn around” foi suficiente para que quando eu chegasse, visse minha irmã atracada com a dita cuja.
Não hesitei. Corri pra cima da nossa inimiga. Apliquei-lhe cintadas com toda força que eu tinha. Não parava! Confesso um urro, como Leônidas, enquanto a golpeava.
Me lembro de me retirarem. Criança, fui suspenso por um adulto, sendo retirado de cima da vítima que estava deitada. Minha memória me remete a uma altura absurda.
Veja, não me orgulho disso. Eramos crianças, todos os envolvidos.
Mas era a minha irmã, sabe?
A vida toda ela ia me dar tantas provas de amor…
Eu te amo, Paula Johnson. Faço qualquer coisa por você.
Nós vencemos. Mas não por causa daquele dia, não por causa das cintadas.
Vencemos por causa da nossa história.